O que é o ácido hialurónico?

O ácido hialurónico é um polissacarídeo da família dos glicosaminolicanos (GAGs) presentes naturalmente na derme. Descoberto em 1934 no humor vítreo dos olhos de vaca, despertou um grande interesse devido à sua excecional capacidade hidratante.

Também chamado de hialuronato de sódio, tem sido muito usado nos últimos anos na cosmética para preencher rugas e oferecer uma segunda juventude à pele. Usado em injetáveis, suplementos orais ou aplicados localmente por exemplo sob a forma de cremes, esta substância permite reequilibrar o nível de hidratação da pele, conferindo-lhe um aspeto mais jovem e preenchido. O elevado poder hidratante torna também esta molécula um lubrificante para os outros tecidos do corpo tais como articulações e músculos, permitindo a estes suportar eficazmente o peso do corpo, de resistir às tensões e sobretudo de proteger das agressões.

 

Estrutura química:

O ácido hialurónico tem como fórmula molecular (C28H44N2O23)n. Trata-se de um polímero de dissacarídeos (açúcar formado por 2 oses) com 2 moléculas base, a N-acetilglucosamina e o ácido glucurónico. Os dissacarídeos ligam-se entre si de forma covalente por ligações glicosídicas alternadas podendo chegar a 100 000 unidades.

É o mais simples e maior dos GAGs, ou seja, macromoléculas glucídicas que constitui o cimento intercelular ou matriz extracelular do tecido conjuntivo.

Figura 1: Estrutura química do ácido hialurónico

 

Funções no organismo:

O ácido hialurónico está naturalmente presente em todos os diferentes tecidos do organismo (epitelial, conjuntivo e nervoso). A matriz extracelular da derme é o maior reservatório.

As moléculas de ácido hialurónico estão presentes em diversos tamanhos consoante a sua localização na pele. As que se encontram na superfície da pele, na epiderme, são maiores e garantem a hidratação das camadas superficiais. As que se encontram em maior profundidade apresentam um tamanho mais reduzido.

Com o avançar da idade, a concentração em ácido hialurónico vai reduzindo significativamente provocando uma maior flacidez, desidratação e perda de elasticidade da pele.

Além de nutrir e manter a hidratação da pele, o ácido hialurónico desempenha vários papéis importantes tais como:

– Regula a cicatrização, assegura a coesão dos tecidos e intervém na reconstrução da estrutura cutânea;

– Protege as articulações;

– Participa na hidratação do olho em caso de secura ocular;

– Tem um papel na proliferação e na migração das células;

– Contribui nas reações imunitárias.

 

Produção do ácido hialurónico

Os primeiros produtos medicinais com ácido hialurónico apareceram nos anos 70. Foram inicialmente usados essencialmente em cirurgias oftálmicas tais como no transplante da córnea, glaucoma ou ainda cataratas; e também em tratamentos articulares (artrose).

Mais tarde, nos anos 2000, esta molécula tornou-se no ingrediente de primeira escolha na conceção dos cuidados anti-aging, ou ainda usada em injeções para preenchimento de rugas.

Atualmente tem-se verificado uma franca expansão no uso do ácido hialurónico em fitoterapia, como suplemento oral.

O fabrico do ácido hialurónico baseia-se em 2 técnicas:

– Extração da molécula a partir de cristas de galo. Esta técnica consiste em pulverizar as cristas, tratá-las quimicamente e purificar a molécula extraída. Atualmente, esta técnica encontra-se em desuso.

– Fermentação bacteriana. Esta técnica reside no princípio de fermentar as bactérias Streptoccocus zooepidemicus, que são capazes de sintetizar filamentos de ácido hialurónico. Esta última tem sido substituída progressivamente por outra técnica mais higiénica, que é a fermentação de bactérias Bacillus subtilis, de forma a reduzir, segundo a comunidade científica, os riscos de contaminação com endotoxinas e impurezas virais.

 

Função a nível da pele:

 

  • Ação hidratante

O ácido hialurónico é um dos mais importantes componentes da derme envolvidos nesta função, devido à sua elevada capacidade de retenção em água pois é capaz de absorver mais de 1000 vezes a sua capacidade em água. Aplicado topicamente, forma um filme hidratante sobre a epiderme, que ajuda a compensar a perda de água, melhorando as condições da pele e proporcionando desta forma elasticidade, suavidade e uma superfície mais homogénea.

 

  • Ação anti-aging

A quantidade e a qualidade do ácido hialurónico na derme vai reduzindo progressivamente com a idade. A pele fica mais desidratada, mais frágil e as primeiras rugas vão surgindo. Depois aparece um relaxamento dos tecidos, a flacidez.

O ácido hialurónico é usado como cuidado anti-envelhecimento sob a forma de:

– Formulações de aplicação local (loções, séruns, cremes, máscaras)

A aplicação tópica de cremes e de séruns pode prevenir o aparecimento de rugas e ajudar a reparar as células danificadas pelas agressões, em específico às dos raios UV.

 

Existem duas opções de cremes: contendo ácido hialurónico com um alto peso molecular ou com um baixo peso molecular.

–> Alto Peso Molecular:

Permite manter a água na superfície da pele, retendo a humidade essencial ao seu equilíbrio. Acaba por permanecer na parte exterior da pele, cobrindo a área mais superficial e criando uma barreira contra danos causados ​​pela exposição solar.

–> Baixo peso molecular:

É fragmentado para ter um peso molecular menor, tornando-o capaz de penetrar e hidratar a pele com profundidade. Quanto menor o peso, maior a penetração e o poder de atuação no combate às rugas e à falta de firmeza.

 

 – Fillers ou injetáveis

Esta é uma opção que acaba por penetrar mais profundamente na pele do que os cremes, mas que é também mais dispendiosa e invasiva, uma vez que é difundida nas camadas mais profundas da pele após a penetração da agulha. No entanto, os resultados continuam a ser apenas semipermanentes (uma média de 6 meses) e poderá ter que repetir em pouco tempo os tratamentos. Este processo estimula a síntese de colagénio, recuperando, de forma parcial, a aparência pretendida. Por norma, os resultados chegam de forma imediata e o aumento da produção de colagénio poderá ficar visível um mês após o tratamento. Não existem muitos riscos e a probabilidade de uma reação alérgica é baixa.

 

Suplementos orais

A suplementação oral é recomendada a partir dos 35 anos de forma a fornecer um apoio estrutural à epiderme, manter o nível de hidratação dos tecidos, estimular a produção de colagénio e de elastina, nutrir as células cutâneas, entre outras, ou seja, abrandar o envelhecimento cutâneo. Nesse sentido, é recomendada uma dosagem diária de 100 a 120mg. A toma oral diária não provoca reações adversas a partir do momento em que as dosagens e a duração dos tratamentos são respeitadas.

É muito importante uma escolha correta do suplemento oral em ácido hialurónico de forma a aproveitar ao máximo as suas qualidades terapêuticas. O principal critério a ter em atenção reside no peso molecular do ácido hialurónico contido na cápsula ou comprimido. Uma cápsula de 100mg pode ser mais eficaz do que outra de 120mg devido ao seu baixo peso molecular. De relembrar que o ácido hialurónico é um polímero constituído por várias subunidades que podem formar uma longa cadeia e quanto mais longa for, mais lenta será a sua assimilação pelo organismo.

Uma vez nos intestinos, o ácido hialurónico será fracionado por diversas enzimas. As partículas mais pequenas serão mais facilmente assimiladas pela via dos quilomicra e poderão atravessar a parede intestinal.

Os quilomicra são responsáveis pelo transporte de lípidos provenientes da nossa alimentação. No entanto, tendo em conta o seu tamanho não passam pela via sanguínea mas sim pela via linfática. As moléculas de ácido hialurónico seguem então pela via linfática de forma a atingir os tecidos cutâneos.

 

 

Conclusão:

Tendo em conta a sua eficácia cosmética e nutricosmética, perfil de segurança aceitável, biocompatibilidade, a não toxicidade e a adesão dos utentes, justifica-se a utilização cada vez maior de formulações à base de ácido hialurónico para o tratamento de vários defeitos da pele e mais particularmente no anti-envelhecimento.

Outra estratégia interessante para aumentar naturalmente o nível de ácido hialurónico na pele seria a suplementação com a N-acetilglucosamina.

 

Referências:

Bukhari, S. N. A. et al. (2018). Hyaluronic acid, a promising skin rejuvenating biomedicine: A review of recent updates and pre-clinical and clinical investigations on cosmetic and nutricosmetic effects. International journal of biological macromolecules.

Weigel, P. H., Hascall, V. C., & Tammi, M. (1997). Hyaluronan synthases. Journal of Biological Chemistry, 272(22), 13997-14000.

Pavicic, T., Gauglitz, G. G., Lersch, P., Schwach-Abdellaoui, K., Malle, B., Korting, H. C., & Farwick, M. (2011). Efficacy of cream-based novel formulations of hyaluronic acid of different molecular weights in anti-wrinkle treatment. Journal of drugs in dermatology: JDD, 10(9), 990-1000.